domingo, 15 de setembro de 2013

Ilhas



Com um conjunto de palavras,
Mostrei-te as cores de meu amor.
Pintaste uma ilustração
Que abriu as janelas à luz,
Abrilhantando o choro da escuridão.
Deste vida ao corpo de uma cruz.

Nove tesouros mergulhados no Atlântico
Descobertos pela aventura de viver.
Neste desejo chorou meu coração
Quando agarrei o verde e o azul,
Ao subir um velho vulcão
Ou caminhando sobre campo e paul.

Não me falta vontade de fugir
Cansado de bater em muralhas e paredes,
Certo ser inocente prisioneiro.
Estendeste a mão e cantaste “Calma!”
Perante o abismo do nevoeiro
Que conspira na alma.

Mas na ilha onde acordei
Uma segunda vez, andaria ensonado,
As nuvens espessas e até cinzentas
Não são pobre diabo ou demónio,
São águas por liberdade sedentas,
Por isso, para lá navegou D. António.

Neste nevoeiro em meus sonhos,
E não o delicado da ilha,
Pegaste num emaranhado engenho:
Nada mais que umas palavras.
Pretendeste mostrar que têm desenho
Além do sangue e suor de suas lavras.

Tenho olhado a janela como leio um livro,
Esfolheio o ar mudando as páginas.
Embebedo-me nos tons de tanta clareza:
A verdade raiada diante de mim
Sem disfarces, vaidade ou avareza,
Sorrindo, tão fácil de ver e tocar-lhe assim!

Ofuscado com tanto calor
Acendem-se cinzas de receios e ilusão,
O ar até nem se deixa tocar.
O infinito tem tantas paredes!
Fecho a janela e começo a vergar
O medo de perder sereias, ficar nas redes.

Caem as janelas, fecha-se o livro,
A história nem acabou e não há folhas.
Ocultam-se os pontos das fugas
Tirando às palavras o encosto:
Gostariam de chamar baleias, neros ou belugas
E partirem para onde o sol não está posto.

A carne do corpo se cansou
Ofegante por um novo ar!
“Calma! Calma!”, tudo será ilustração:
As palavras não morreram, estão expectantes!
Oceano não é prisão, antes a condução
Para altos cumes e sonhos distantes.

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