domingo, 26 de janeiro de 2014

Izalco



Com o pão na mão em plena flamenga
Passeio passos de pessoa molenga,
Um cenário vasto, penso num olá,
Diria-o a uma branca morena espanhola

Por ali trabalha e desprende seu cantante
Onde vou e venho expandido luminoso
Num céu azul de nebuloso constante
Em frios corações e sangue ocioso.

Ficou a meio a poesia, longe,
Morrendo num momento lento de sonho
Como um tufão em clausura de monge
Estoirando a raiva em chão enfadonho.

Não sou Alencar nem Ega do Eça
Mas engolir-me-ia num teatro e seria a peça,
Erguer plenitude ao alto do palco
E deixar representar o vulcão Izalco.

E olho do mais alto desejo
Aprecio o calor broto da ruína,
Afinal não sou indestrutível ensejo
Engolido em lava cinza quente feminina.

António Sérgio Godinho
24 de janeiro de 2014