Com um
conjunto de palavras,
Mostrei-te
as cores de meu amor.
Pintaste uma
ilustração
Que abriu as
janelas à luz,
Abrilhantando
o choro da escuridão.
Deste vida
ao corpo de uma cruz.
Nove tesouros
mergulhados no Atlântico
Descobertos pela
aventura de viver.
Neste desejo
chorou meu coração
Quando agarrei
o verde e o azul,
Ao subir um
velho vulcão
Ou caminhando
sobre campo e paul.
Não me falta
vontade de fugir
Cansado de
bater em muralhas e paredes,
Certo ser
inocente prisioneiro.
Estendeste a
mão e cantaste “Calma!”
Perante o
abismo do nevoeiro
Que conspira
na alma.
Mas na ilha
onde acordei
Uma segunda
vez, andaria ensonado,
As nuvens
espessas e até cinzentas
Não são
pobre diabo ou demónio,
São águas
por liberdade sedentas,
Por isso,
para lá navegou D. António.
Neste nevoeiro
em meus sonhos,
E não o
delicado da ilha,
Pegaste num
emaranhado engenho:
Nada mais
que umas palavras.
Pretendeste mostrar
que têm desenho
Além do
sangue e suor de suas lavras.
Tenho olhado
a janela como leio um livro,
Esfolheio o
ar mudando as páginas.
Embebedo-me
nos tons de tanta clareza:
A verdade raiada
diante de mim
Sem disfarces,
vaidade ou avareza,
Sorrindo,
tão fácil de ver e tocar-lhe assim!
Ofuscado com
tanto calor
Acendem-se
cinzas de receios e ilusão,
O ar até nem
se deixa tocar.
O infinito
tem tantas paredes!
Fecho a
janela e começo a vergar
O medo de
perder sereias, ficar nas redes.
Caem as
janelas, fecha-se o livro,
A história
nem acabou e não há folhas.
Ocultam-se os
pontos das fugas
Tirando às
palavras o encosto:
Gostariam de
chamar baleias, neros ou belugas
E partirem para
onde o sol não está posto.
A carne do
corpo se cansou
Ofegante por
um novo ar!
“Calma!
Calma!”, tudo será ilustração:
As palavras
não morreram, estão expectantes!
Oceano não é
prisão, antes a condução
Para altos
cumes e sonhos distantes.