quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Louco choro

Louco choro e calores lascivos
os gritos sem malvadez
depois de muitos anos
se termina,
pintam-se o vermelho e o encarnado
com a água que me rebenta na cara
rubor embriagado mal chamado,
tonto e sem graça,
vacilante.

Raça de sangue
Incansável, insaciável,
por que fui chamado?
Degustei o sabor que adorei,
provei a lâmina lancinante,
rasgaram-se os abraços na coragem,
eriçaram os músculos, pêlos e cabelos,
as veias e os segredos;
degustei o sabor que sorvi num trago,
quis encolher-me e encolhi-me,
não fugi, afligiu-se me a saudade,
fiquei e explodi em erosões de pudor.

Não caí.
Susteve-me a varanda
a paisagem
um agradável sol de luz.
Bolas de sabão
envolveram o ar
passaram pelo rosto
mas não houve vingança,
nunca pensei em vingança;
arrebentaram-se nos arco-íris
no ar que se agitou
com a subida frenética e oscilante,
arrebentou o coração
arrebentaram os pulmões
os músculos
e a cor dos cabelos que quis torcer
com garras e segredos.

O sopro que expulsou o sabor
foi inocentemente impelido
a fazer magia persuadido
perdido no desejo dos voos
sem asas para carne de rapina,
inocente.

Deleite,
meus olhos brilharam
graças de bradar aos céus
este único rio de leito vertical
que deixa o sentido aquando da chegada
enche-se na largada de significância,
emocionado,
tão delicado e deliciado,
nunca compreendi
e já nem espero,
apenas desejo
será permanente;
oh choro!
que me refrescas e cansas
os pulmões e vales
da minha vida, oh vida!
como te desejo e a outra igual
anseio e desejaria nessa possibilidade
de reviver uma vez mais
o viver deste tremor calorento
que delicia com a chegada
do frio e da nostalgia;
como louco sou, oh loucura!
impávida e serena
que crítico no cinismo estupor
de querer sempre repetir
e repetir uma vez mais;
não bastava uma única vez?

E assim…
é assim;
num último cântico
torci pela eternidade e li um livro
aqueci-me na lareira e no fogo
vi o mundo
pensei
deixei os olhos chorar
na sua vontade e orgasmo
e vivi,
na cor e pose,
fiquei eterno.
Desejoso.
.