domingo, 12 de dezembro de 2010

As noites da madrugada

As noites da madrugada
São escuras de filosofia cinética,
Uma pureza hermética
Que dá a fins à largada.

Desprendida a concessão,
Voa-se no vale das horas
Outroras e demais histórias
Sem um fim, simples canção.

Corre o adormecer da luz
No leito da esquizofrenia
Seca e com vontade de beber.

Os dias não pagam juros
Mesmo caia na orla magia
Na madrugada e se viver.

in "Inexistência"

domingo, 28 de novembro de 2010

Em si

E quando tudo acaba
volta a paixão rasgada de desvairos,
no batimento livre do calor
amor...
voltam os aconchegados afectos.

E quando tudo acaba em si,
nova melodia expele-se
na implosão das mágoas reprimidas
pela lenha botada para arder
e o coração aquece,
arde de esquecimentos e lembranças
em tons de memória.

Percorre-me amor, dá-me luz,
coração que preciso de calor
senão louco fico por arder
vontade tenho de assumir esta paixão
que nos fins se encontra
e nos delícia com as venturas da vida
que anda à roda, por vezes, connosco dança
e tonto estou com tanto mel e calor
e toda outra infusão de paixão e dor.

domingo, 17 de outubro de 2010

Muros

Quando pó for
e não tornar esquecimento
serei sólida inexistência
alma e corpo
enraizados nos amores e paixão
na voz que diz "Amo-te"

Gostaria de ser como os muros
agarrando musgos e fetos
com a transpiração húmida
verdejando a vida
que conserva as existências;
os olhos também brotam
mas a vida cai de mim.

sábado, 9 de outubro de 2010

Quis voltar

Quis voltar a pensar em ti, ter saudade,
ver-te espelhada em todas as faces
sem espelhos nem lágrimas nem água.

Quis semear a tua pele nas mãos
esperançosas de se aquecerem
e ouvirem cantar embalos,
adormecerem no sonho eterno do colo desejado.

Porque cresci...

Não há razão para impedir
a chuva de calar o silêncio,
antes molhemo-nos todos
do que a fúria se alastre
e arda o fogo que espera
pela chama da paz aliciada
os abraços em falta
o sorriso por detrás do eclipse
a vontade embriagada
e as presenças esquecidas.

Por que cresci?

E servirão as mãos para se tocarem
e sentir ambas as rugas
dos versos que já não se apagam,
a história sentida e delicada
em que bastou sempre um silêncio oportuno.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Louco choro

Louco choro e calores lascivos
os gritos sem malvadez
depois de muitos anos
se termina,
pintam-se o vermelho e o encarnado
com a água que me rebenta na cara
rubor embriagado mal chamado,
tonto e sem graça,
vacilante.

Raça de sangue
Incansável, insaciável,
por que fui chamado?
Degustei o sabor que adorei,
provei a lâmina lancinante,
rasgaram-se os abraços na coragem,
eriçaram os músculos, pêlos e cabelos,
as veias e os segredos;
degustei o sabor que sorvi num trago,
quis encolher-me e encolhi-me,
não fugi, afligiu-se me a saudade,
fiquei e explodi em erosões de pudor.

Não caí.
Susteve-me a varanda
a paisagem
um agradável sol de luz.
Bolas de sabão
envolveram o ar
passaram pelo rosto
mas não houve vingança,
nunca pensei em vingança;
arrebentaram-se nos arco-íris
no ar que se agitou
com a subida frenética e oscilante,
arrebentou o coração
arrebentaram os pulmões
os músculos
e a cor dos cabelos que quis torcer
com garras e segredos.

O sopro que expulsou o sabor
foi inocentemente impelido
a fazer magia persuadido
perdido no desejo dos voos
sem asas para carne de rapina,
inocente.

Deleite,
meus olhos brilharam
graças de bradar aos céus
este único rio de leito vertical
que deixa o sentido aquando da chegada
enche-se na largada de significância,
emocionado,
tão delicado e deliciado,
nunca compreendi
e já nem espero,
apenas desejo
será permanente;
oh choro!
que me refrescas e cansas
os pulmões e vales
da minha vida, oh vida!
como te desejo e a outra igual
anseio e desejaria nessa possibilidade
de reviver uma vez mais
o viver deste tremor calorento
que delicia com a chegada
do frio e da nostalgia;
como louco sou, oh loucura!
impávida e serena
que crítico no cinismo estupor
de querer sempre repetir
e repetir uma vez mais;
não bastava uma única vez?

E assim…
é assim;
num último cântico
torci pela eternidade e li um livro
aqueci-me na lareira e no fogo
vi o mundo
pensei
deixei os olhos chorar
na sua vontade e orgasmo
e vivi,
na cor e pose,
fiquei eterno.
Desejoso.
.

sábado, 14 de agosto de 2010

IRelevante

Desperdício foi cristo nascer e o homem o condenar