terça-feira, 4 de março de 2014

Branco verso



O que seria eu se palavra não existisse?
Seria certamente o espaço branco
entre estrofes,
uma linha para respirar
em que só se deleitosamente anseia
o verso seguinte.

Sossegarias vida,
como a tília
que envelhece para ser
o repouso de outro sangue,
se fosse uma onomatopeia de raiva?!

Que seria eu entre onomatopeias
arfantes, ofegantes,
projetadas nos desencontros
de um sangue desassossegado
que não sossega sossegado
ansiando, ansiando mesmo,
respirar naquele pequeno traço branco
onde palavra não existe
onde a vida parece repousar.

António Sérgio Godinho
3 de março de 2014

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