sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Como naquele dia...

Como naquele dia...
Sentia frio... apertado na cinza da lã do peito...
Tremia com a mão no guarda-chuva...
Ria tremelicando que a vista era longa.
O frio acariciava a pele,
O coração batia quente;
E... não esqueço...
Não esqueço...
Que perto da baía,
Caminhava em chão rochoso
Onde nasciam jovens gaivotas
(também elas tremelicavam
De frio
E de ânsia pelos pais chegarem).

No intervalo das ondas,
Nas ondas
E as ondas
Repousava o dia.
A alma parecia sentir-se livre,
Com tanta seda e veludo se enganava...
A alma parecia sentir-se livre.
O enfarte escorria longo pelo sangue,
Sentindo o cantar das gaivotas
E demais pássaros.
A tarde era longa
Como assim ditava o fraco calor,
Que o sonho nunca acaba
Se não abrirmos os olhos;
A tarde e as gaivotas assim presume o sonho,
Que o sonho não acaba
Se não abrirmos os olhos.

Nos braços vivos da cruz,
A madeira espera o encosto,
Ansiosamente, espera no seu veludo.
E se estava frio, eu não sabia...
De olhos fechados mostrava a vida
Que não foi mais que o palpitar
Da desistência;
E de olhos fechados procurava encontrar
O néctar desta sopa de peixe e água,
O alimento que repousa,
A areia que, de olhos fechados, é só minha...
E se é só minha não é de ninguém
Pois só tenho mesmo a vida.

in "Profundo Azul"

2 comentários:

ana disse...

Simplesmente profundo...

Sandra Rodrigues disse...

Só me consigo lembrar de uma noite com muito vento, depois de um certo jantar em Belém! É o que o frio me faz lembrar... está muito bonito.